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Enfermeira Sem Café

Enfermeira Sem Café

25
Dez18

O Natal...


Andreia Belourico

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Seria muito mau escrever algo e não ser sobre o Natal, não era?! Sim, também acho que sim. Este é o sétimo Natal que passo na qualidade de enfermeira. Ao longo destes anos tenho passado sempre algum momento do Natal no hospital. E sabem?! É bom. Não tem de ser mau. Tento sempre encontrar o lado bom naquele pedaço de tempo que passamos a ser a família de outros. Ainda assim não é fácil trocar os nossos pelos de alguém. Não é fácil receber chamadas de casa a dizer que este, aquele e o outro "estão aqui e querem mandar-te um beijinho", há dias em que as lágrimas correm. Não é fácil trocar a roupa nova para estrear naquele dia pela farda branca de todos os dias. Não é fácil quando as visitas vão embora e nos dizem, Feliz Natal. Mas porra, quem eles vieram visitar, está bem pior e, é aí que muda o sentido. Nós passadas as 8 ou 16 horas vamos para casa, e eles ficam e vão-nos vendo chegar e abalar (isto do abalar é porque ainda sou meio alentejana 😁). Ambos sabemos que nenhuma das partes queria ser a companhia uma da outra nestes dias, mas aceitamos e tentamos aligeirar a coisa. Mas vos garanto que de tudo o que é difícil, o mais duro é por vezes, não saber o que dizer a alguém que sabe que, este será o seu último Natal. Reduzimo-nos à nossa insignificância e pequenez. Não vos digo o que costumo dizer nessas alturas porque no momento sai, do coração depois de engolir em seco. Nestes dias os nossos colegas são preciosos, também somos família e fazemos o Nosso Natal dos Hospitais, mas sempre com o pensamento em casa, na nossa mesa e naqueles que anseiam pelo nosso regresso.
Bom quero eu dizer com tudo isto que desejo um FELIZ NATAL a todos os Enfermeiros da minha vida e não só. A todos os que têm de abandonar o conforto das suas casas e abraçar o trabalho de coração aberto, em dias de tanta luz. Um abraço bem apertadinho em todos vós. ❤️😘

03
Dez18

A morte aos olhos dos inocentes


Andreia Belourico

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Isto podia ser um bom nome para um romance ou policial, “A morte aos olhos dos inocentes”. Mas não, os inocentes são mesmo os “xs’s” da nossa vida. As nossas crianças. Aquelas que absorvem tudo como esponjas, aquelas que estão atentas quando julgamos estarem noutra galáxia, aquelas que fazem perguntas incómodas…para nós claro. Para elas todas as perguntas têm um propósito e uma razão de ser, nós é que passamos bem sem elas. Os miúdos fazem-nos com cada finta. Credo. E, ao falarmos em lidar com a morte quando há crianças pelo meio, o coração começa a bater mais depressa, as mãos a suar, a língua fica seca e depois se for preciso ainda nos começamos a rir como se fossemos tolinhos. 

A morte como a sabemos, é um desfecho inevitável para todos. Todos sem exceção. Se não sabiam ficaram a saber agora, lamento. E a verdade é que, tudo o que um processo de morte envolve é pesado. Os cultos, rituais e costumes, toda  a cultura da morte é pesada, dolorosa e penosa. Os velórios, funerais, memoriais, cemitérios, campas, flores, “levantamento dos ossos”, o preto que se veste da cabeça aos pés. Tudo isto mexe connosco, e de maneira diferente. 

Posso falar-vos do que foi a minha experiência ao longo destes quase 30 anos com a morte. Da minha família já partiram muitos, uns cedo de mais, outros porque a vida já lhes dera tudo. Os meus pais desde os meus 6/7 anos (idade com a qual comecei a ver “desaparecer” pessoas) abriram sempre o jogo comigo e nunca me esconderam ou privaram da realidade, dura, mas a realidade. Lembro-me bem, como se fosse hoje, da explicação que o meu pai me deu quando a minha avó partiu “A avó estava muito doente e quando o coração deixa de trabalhar morremos, foi isso que aconteceu à avó.” Eu tinha 6 anos. Aquilo fez-me sentido e, aos meus pais certamente também fez. Foi a melhor maneira que os dois arranjaram de me explicar o desaparecimento de alguém tão importante. Apartir daí frequentava o cemitério acompanhada e fui percebendo todos os cultos que a morte “exigia”. Fui sempre a funerais e velórios. Nunca fui de muitas perguntas, mas sempre fui muito observadora e o que observava para mim, era o suficiente. Confesso que hoje, aos 29, não fiquei traumatizada e talvez a sinceridade e transparência a que fui sujeitada me tenham feito assimilar os acontecimentos de uma forma mais tranquila.

No meu dia a dia, contacto com muitas crianças, umas prestes a perder um pai, ou  mãe, outras um avô ou uma avó. E, novamente observo. Observo a maneira como a família destas crianças lida com elas perante um cenário dantesco como a morte. Já ouvi as mais variadas explicações como podem imaginar e, não me atrevo sequer a fazer nenhum juízo de valor sobre nenhuma delas pois para estas pessoas é o que faz sentido naquela altura em que as emoções saltam do coração e depois da boca e em que há uma "senhora bota" para descalçar. É do caraças. E, para mim o que faz sentido é respeitar todas estas decisões. Como enfermeira apenas intervenho quando me é solicitado, mais que não seja para ajudar a um pai ou uma mãe a explicar a verdade em que acreditam. Não quero sequer imaginar-me neste papel, e as minhas mãos começaram entretanto a suar e já engoli em seco. 

Este foi só mais um desabafo de segunda-feira à noite, que vem apenas constatar que somos todos diferentes nas nossas abordagens relativamente a um acontecimento que é transversal a todos nós. A morte e a partida de alguém. 

01
Dez18

O laço é vermelho


Andreia Belourico

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Sobre esta doença não há muito a dizer. Apareceu, lançou o pânico, seguido do caos. Propagou-se à velocidade da luz. Pouco ou nada se sabia sobre ela e continuou o seu caminho. Sempre foi um tabu. Das doenças mais temidas de sempre. E carrega um dos maiores estigmas da sociedade. A medicina obrigou-se a evoluir no seu sentido ou contra ele durante anos. Não há cura. Não sei se algum dia vai haver. Hoje com toda a informação nas nossas mãos à distância de um clique ela continua a sua viagem e, apesar de sabermos como travá-la, os comportamentos de risco continuam e prometem continuar. É preciso levar o laço ao peito. ❤️

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